Nirvana
Paz das montanhas, meu alívio certo.
O girassol do mundo, aberto,
E o coração a vê-lo, sossegado.
Fresco e purificado,
O ar que se respira.
Os acordes da lira
Audíveis no silêncio do cenário.
A bem-aventurança sem mentira:
Asas nos pés e o céu desnecessário.
Animação do poema Guerra Civil
Guerra Civil
É contra mim que luto.
Não tenho outro inimigo.
O que penso,
O que sinto,
O que digo
E o que faço,
É que pede castigo
E desespera a lança no meu braço.
Absurda aliança
De criança
E adulto,
O que sou é um insulto
Ao que não sou;
E combato esse vulto
Que à traição me invadiu e me ocupou.
Alentejo
A luz que te ilumina,
Terra da cor dos olhos de quem olha!
A paz que se adivinha
Na tua solidão
Que nenhuma mesquinha
Condição
Pode compreender e povoar!
O mistério da tua imensidão
Onde o tempo caminha
Sem chegar!...
Quase um poema de amor
Há muito tempo já não escrevo um poema
De amor.
E é o que eu sei fazer com mais delicadeza!
A nossa natureza
Lusitana
Tem essa humana
Graça
Feiticeira
De tornar de cristal
A mais sentimental
E baça
Bebedeira
Mas ou seja que vou envelhecendo
E ninguém me deseje apaixonado,
Ou que a antiga paixão
Me mantenha calado
O coração
Num íntimo pudor,
- Há muito tempo já que não escrevo um poema
De amor.
Ficha
Poeta, sim, poeta…
É o meu nome.
Um nome de baptismo
Sem padrinhos…
O nome do meu próprio nascimento…
O nome que ouvi sempre nos caminhos
Por onde me levava o sofrimento…
Poeta, sem mais nada.
Sem nenhum apelido.
Um nome temerário,
Que enfrenta, solitário,
A solidão.
Uma estranha mistura
De praga e de gemido à mesma altura.
O eco de uma surda vibração.
Poeta, como santo, ou assassino, ou rei.
Condição,
Profissão,
Identidade,
Numa palavra só, velha e sagrada,
Pela mão do destino, sem piedade,
Na minha própria carne tatuada
Orfeu rebelde
Orfeu rebelde, canto como sou:
Canto como um possesso
Que na casca do tempo, a canivete,
Gravasse a fúria de cada momento;
Canto, a ver se o meu canto compromete
A eternidade no meu sofrimento.
Outros, felizes, sejam rouxinóis…
Eu ergo a voz assim, num desafio:
Que o céu e a terra, pedras conjugadas
Do moinho cruel que me tritura,
Saibam que há gritos como há nortadas,
Violências famintas de ternura.
Bicho instintivo que adivinha a morte
No corpo dum poeta que a recusa,
Canto como que usa
Os versos em legítima defesa.
Canto, sem perguntar à Musa
Se o canto é de terror ou de beleza.
Repto
Aceito o desafio.
Que poeta se nega
A um aceno do acaso?
Tenho o prazo
Acabando,
O que vier é ganho.
Na lonjura
Da última aventura
É que a alma revela o seu tamanho.
Extremo Oriente da inquietação
Lá vou!
A quê, não sei,
Mas lá descobrirei
Que razão me levou.
Lá, onde tanto que me precederam,
Se perderam,
E aprenderam, na perdição
Que só é verdadeiro português
Quem, um dia, a negar a humana pequenez,
Se inventa e se procura
Nas brumas do mar largo e da loucura.
Romance
Ora pois: foi tal e qual como vos digo:
Minha Mãe, certo dia, pôs a questão assim:
-ou Ela, ou eu!
E ficou resolvido que no dia doze
Minha Mãe parisse,
E pariu!
Pariu e ninguém se opôs! Ninguém!
Como se fosse um feito glorioso
Parir assim alguém, tão nu, tão desgraçado!
Por mim,
Ainda disse que não.
Mas o seu Anjo da Guarda
Era forte e tenebroso…
E aquele frágil cordão
Deixou de ser o meu Pão,
O meu Vinho
E a paz eterna do meu coração
Mesquinho.
Deixou de ser o silêncio
Delicado e agradecido
Dos meus instintos menores…
Deixou de ser o Norte daquele lago
Onde boiava o meu corpo
Sem alegria e sem dores.
Deixou de ser aquela verdadeira
E sagrada ignorância do meu nome,
Que Satanás me disse, quando disse:
- Respira e come,
Respira e come,
Animal!
(A voz de Satanás já nesse tempo
Era humana e natural…)
Deixou de ser um mundo e foi um outro.
Foi a inocência perdida
E a minha voz acordada…
Foi a fome, a peste e a guerra.
Foi a terra
Sem mais nada.
Depois,
Sem dó nem piedade a vida começou…
Minha Mãe, a tremer, analisou-me o sexo
E, ao ver que eu era homem,
Corou…
Não desesperes, Mãe!
O último triunfo é interdito
Aos heróis que o não são.
Lembra-te do teu grito:
Não passarão!
Não passarão!
Só mesmo se parasse o coração
Que te bate no peito.
Só mesmo se pudesse haver sentido
Entre o sangue vertido
E o sonho desfeito.
Só mesmo se a raiz bebesse em lodo
De traição e de crime.
Só mesmo se não fosse o mundo todo
Que na tua tragédia se redime.
Não passarão!
Arde a seara, mas dum simples grão
Nasce o trigal de novo.
Morrem filhos e filhas da nação,
Não morre um povo!
Não passarão!
Seja qual for a fúria da agressão,
As forças que te querem jugular
Não poderão passar
Sobre a dor infinita desse não
Que a terra inteira ouviu
E repetiu:
Não passarão!
Animação do Poema
Animação elaborada por Rafael Martins.
O conhecimento que os alunos têm sobre Miguel Torga
Miguel Torga é um conhecidíssimo escritor da literatura portuguesa. Já ganhou imensos prémios nacionais, mas numa altura em que todos se queixam que os jovens não lêem, seria interessante aprofundar o conhecimento dos alunos da Escola Secundária D. João II têm deste autor que surge com frequência nos manuais escolares. Para o efeito fomos para a rua e tentamos saber junto dos nossos colegas e que conhecem sobre Miguel Torga.
Entrevistamos 20 jovens e fizemos-lhes a questão: “Sabes quem é Miguel Torga?”. Das respostas que obtivemos seleccionamos as que consideramos mais significativas:
“É um pseudónimo de Fernando Pessoa”
“É um escritor poeta que morreu no ano passado”
“É um artista “
“Cantor dos DZRT”
“É o pseudónimo do Angélico dos DZRT”
“É um gajo qualquer com a mania que é escritor “
“Campeão de natação”
Concluímos que das horas que passamos no exterior permitiram-nos concluir que apenas 45% do universo estudantil da nossa escola revelam algum conhecimento sobre Miguel Torga.
A nossa sugestão em relação a este gravíssimo problema, a esta triste situação é simplesmente passar pelo blogue Antologia Poética, de Miguel Torga, produzido pela equipa Agent’axa que tende a dar conhecer Miguel Torga.
*Reportagem feita pela equipa Agent’axa, questionário por Tiago Cardoso e Maria Inês Almeida.
Foi difícil, mas foi bem sucedido. Após vários convites temos hoje a possibilidade de ter connosco um dos maiores vultos da literatura portuguesa. Publicou dezenas de obras, praticamente utilizou diferentes géneros literários.
Agent'axa: Boa noite, Miguel Torga
Miguel Torga: Muito Boa noite
Agent'axa: Somos uma equipa participante do Sapo Challenge e, como apreciadores das suas obras, decidimos escolhê-lo como figura que estruturará o nosso blogue. Para tal, gostaríamos de fazer-lhe algumas questões relativamente à sua pessoa.
Miguel Torga: Ah e tal e o catano, com certeza que sim.
Agent'axa: Diga-nos o seu nome de baptismo.
Miguel Torga: Desculpe lá, desculpe lá, mas não sou baptizado.
Agent' axa: Bem penso que não fomos muito esclarecedores, gostaríamos de saber o seu verdadeiro nome, uma vez que Miguel Torga é apenas um pseudónimo.
Miguel Torga: Ah perdoem-me...o meu verdadeiro nome é Adolfo Correia da Rocha, Rocha com "Ch" e não com x, sff!
Agent'axa: Sim, sim. Gostávamos também de saber a origem do pseudónimo Miguel Torga.
Miguel Torga: Não sei bem se sabem, mas sou transmontano e na minha terra há uma planta chamada Torga, de raízes fortes, mesmo fortes, daquelas tão fortes, tão fortes que até chateiam!!! uma pessoa tenta arrancá-las da terra mas não pode, porque são mesmo fortes...fortes, fortes, fortes...mesmo fortes e dada a minha personalidade (sou mesmo forte) identifico-me com Torga. Já Miguel, ora bem, não! Não escolhi Miguel pelo simples facto de todos se chamarem Miguel e por não querer fugir a vulgaridade...não! Escolhi Miguel por duas personagens espanholas que admiro com toda minha admiração: Miguel Cervantes e Miguel Unamuno. Grandes senhores, sim senhor...velhos tempos...mesmo bons tempos...
Agent'axa: Soubemos que você foi para o Brasil ainda jovem. O que foi lá fazer?
Miguel Torga: Velhos tempos, é o que digo...velhos tempos...Andava na casa do meu tio a lavrar a terra e a cuidar da bicharada, era uma festa, e a comida! Hum a comida...nunca me esquecerei da pamonha (*1) mineira, as de sal... as de sal eram as minhas preferidas. Mas como ia a dizer, fui trabalhar, mas como génio que sou não podia desperdiçar a minha vida numa fazenda, ou quinta como dizemos cá. Foi por isso que o meu santo tio (que Deus o tenha) pagou-me os estudos em Portugal e posso hoje ser conhecido pelas minhas produções literárias e os meus talentos talentosos.
Agent'axa: Sobre o livro "Antologia Poética" , qual o poema que escreveu com o qual mais se identifica?
Miguel Torga: Identifico-me com cada um em particular dado ao facto de que os meus poemas nasceram de mim, mas posso confessar que o poema "Orfeu Rebelde" foi feito sobre a minha pessoa.
Agent'axa: Que texto nunca voltaria a publicar?
Miguel Torga: Não me arrependo de nada que tenha escrito, arrependo-me antes do que ainda não escrevi. Tenho muito orgulho daquilo que faço.
Agent'axa: Nunca foi uma de muito contacto com o exterior, sempre foi muito recolhido. A que se deve tal facto?
Miguel Torga: Bem...É verdade que sempre fui muito reservado, facto este que deve-se a minha personalidade dura e fechada. Não gosto de expor-me com facilidade às pessoas, não dou-me muito bem com as pessoas que não me compreendem e não gosto de grandes eventos...É um bocado difícil falar sobre mim mesmo.
Agent'axa: Como mede o sucesso de um escritor?
Miguel Torga: O sucesso de um escritor mede-se pelas suas obras, assim como qualquer artista. Não se mede na quantidade de obras mas pela qualidade destas.
Agent'axa: Com uma obra literária tão vasta, como se caracteriza como escritor?
Miguel Torga: Não gosto de fazer uma autocaracterização. Gosto daquilo que escrevo e espero que o público goste da minha obra literária, faço o que faço por gosto principalmente e e penso que tenho tido sucesso.
Agent'axa: Que concelho daria a quem quer iniciar agora o seu percurso literário?
Miguel Torga: Nunca desistir, é o concelho vital para qualquer percurso e lutar, lutar por aquilo que realmente deseja.
Agent'axa: Porque razão escolheu a especialidade de otorrinolaringologia?
Miguel Torga: Escolhi essa especialidade pelo facto de gostar de ajudar as pessoas e por ter um tio surdo...era muito triste vê-lo daquela maneira e este mesmo serviu-me como inspiração para prosseguimento de estudos.
Agent'axa: Para finalizar esta entrevista, gostávamos de pedir que nos desse a sua opinião acerca do nosso blogue.
Miguel Torga: Ah e tal...pode dizer-se que se safa, mas nao sou o melhor a descrever um blogue, porque no meu tempo isto não era assim...esta tecnologia toda dá comigo em doido...Mas desejo-vos boa sorte e que Deus esteja convosco!
Agent'axa: Muito obrigado Miguel Torga, estamos muito felizes com essa entrevista e desejamos-lhe um bom carnaval!
*1-Pamonha é um quitute feito de milho. O milho verde é ralado e à massa resultante é misturado leite e sal ou açúcar.Esta massa é colocada em "copos" feitos com a própria casca do milho que também serve como tampa.As pamonhas são submetidas a cozimento e sua massa alcança uma consistência firme e macia.
Ilustração elaborada por: Maria Inês Almeida [MiA], elemento do Clã Agent'axa.
Deixa a desolação por onde passa.
Torna os sonhos maninhos.
Desmente os adivinhos
Que, na divina graça
De feiticeiras alucinações,
Prometem duração às ilusões.
Besta infernal,
Com asas de morcego
E raiva desbocada,
Largou do prado onde pastava ausente,
E corre, corre, em direcção ao nada,
Única direcção que a fúria lhe consente.
Ilustração elaborada por: Maria Inês Almeida [MiA], elemento do Clã Agent'axa.
Idílio
Lírica, a tarde cai
Com secura nas folhas;
Lírica, a minha vista vai
A olhar o que tu olhas…
Oliveiras de sonho
A ver nascer a lua…
Liricamente ponho
A minha mão na tua
Ilustração elaborada por: Maria Inês Almeida [MiA], elemento do Clã Agent'axa.
(Para mais rápido visionamento desta imagem animada, passar o rato sobre a barra até que esta se preencha)
Adolfo Correia da Rocha, mais conhecido por Miguel Torga, nasce no dia 12 de Agosto de 1907, em São Martinho da Anta, concelho de Sabrosa, Trás-os-Montes. As suas origens estão todas concentradas no meio rural. Por isso, a natureza assume um papel vital na sua produção poética.
Entra no seminário quando era criança, abandonando-o com 13 anos e em 1920 emigra para o Brasil onde fica alojado na casa do tio durante cinco anos a trabalhar na sua fazenda (quinta). O seu tio percebeu as suas capacidades e paga-lhe os estudos no Liceu de Leopoldina.
Regressa a Portugal em 1925 e entra na Universidade de Medicina de Coimbra em 1928, ano em que publicou o seu primeiro livro de poesia "Ansiedade". Ainda estudante publica os seus primeiros livros, tendo concluído a formatura em 1933, fixando-se definitivamente em Coimbra.
Em 1940, ano em que publicou "Bichos", casa-se com a belga Andrée Jeanne Françoise Crabbé a 27 de Julho, em Coimbra.
Em 1934 passa a utilizar o pseudónimo Miguel Torga. Escolhe Torga por identificar-se com um arbusto espontâneo, resistente e florido no chão agreste e com uma tradição combativa e Miguel pelas figuras espanholas: Miguel de Molinos, Miguel de Cervantes, Miguel de Unamuno.
Morre em 17 de Janeiro de 1995 e é enterrado
A nossa Escola
Somos da Escola Secundária D. João II, em Setúbal. A nossa escola entrou em funcionamento no ano lectivo de 1982/83.
A escola é constituída por 3 blocos A, B e C, Ginásio e Polivalente, onde funcionam os Serviços Administrativos e de Gestão.
Este é o Bloco B
A escola não tem as condições que nós gostáriamos, mas gostamos muito de cá andar.
A nossa escola possui muitos espaços para convívio dos alunos e também muitos jardins.
O CLÃ
O nosso clã é constituído pelos seguintes elementos:
Tiago Cardoso, Elisa Mota, Maria Inês Rodrigues, Rafael Martins e Ana Patricia Nunes. Vamos participar no desafio do Sapo Challenge, acompanhados pela professora Fernanda Ledesma.